segunda-feira, 10 de março de 2008

Viver a Quaresma com o Verbo Divino -VI

A Palavra de hoje:

Isaís 50, 4-7; Filipenses 2, 6-11; Mateus 26, 14 – 27, 66
Meditação
- Isaís 50, 4-7
A fidelidade a Deus e aos homens – à missão recebida em seu favor – faz que o Servo de Javé permaneça firme no sofrimento, na ignomínia, no aparente fracasso. Atento discípulo da Palavra de Deus, profeta e mestre de sabedoria com o povo, com a sua sorte prefigura a de Cristo, o humilde que não opôs resistência à vontade do Pai nem se subtraiu à maldade dos homens, seguro – até à hora suprema do abandono na cruz – de que o desígnio de Deus é dom de salvação que se oferece a todos (v.7; cf. Mc 15, 34 e Lc 23, 43.46).
- Mateus 26, 14 – 27, 66
A paixão de Jesus é paradoxalmente – na narração de Mateus – a paixão do Filho do homem, do Senhor da glória, do Juiz universal. Ele é o Deus-connosco, e salva-nos pelo caminho do Servo sofredor, sendo crucificado “como cordeiro conduzido ao matadouro”. Aí nos deu a prova máxima do plano de Deus que é amor. Aquele que podia ter recorrido a mais de doze legiões de anjos para livrar-se das mãos dos homens, deixa-se capturar sem resistência (26, 50b-54); cala-se diante dos “grandes” sem utilizar manifestações sobrenaturais (27, 14.19); reza três vezes humildemente ao Pai, (v.39.42.44), sofre a solidão (v.40) e partilha com os discípulos a sua tristeza de morte (v.38) e a sua debilidade da sua carne (26, 41b).
A sua morte na cruz rubrica a passagem para uma condição totalmente nova: o fim de um culto de sacrifícios, “o véu do templo rasgou-se”, (v.51) e a nova criação: a terra tremeu… e abriram-se os túmulos (v.51-52) e a plena manifestação de que o Crucificado é o Filho de Deus: o centurião e os que guardavam Jesus, muito amedrontados, disseram: de facto, este era o filho de Deus (v.54). De acordo com a perspectiva do seu evangelho, Mateus, mais que os outros evangelistas, insiste no cumprimento das Escrituras – explicitamente ou por meio de citações – para indicar que a paixão faz parte do plano salvífico de Deus.
O absurdo da humanidade, encarnada no povo eleito, é que toda a vida se espera a salvação e na hora em que ela aparece, mata-a: Vós acusastes o Santo e o Justo e exigistes que fosse agraciado para vós um assassino, enquanto fazíeis morrer o príncipe da vida (Act 3, 14-15).
Perguntas para reflexãoNo relato da Paixão segundo Mateus aparecem várias personagens secundárias:
- Qual é a atitude frente a Jesus da mulher de Betânia, de Pilatos e da sua mulher, dos soldados ao pé da cruz, de Simão de Cirene, das mulheres que seguem Jesus desde a Galileia, de José de Arimateia?
- Qual é a atitude dos discípulos?
- Como entendes a multidão que tão depressa o aclama como pede a sua morte?
- Como reagimos quando vemos alguém a sofrer injustamente?
- Estamos conscientes de que a Paixão de Cristo continua em todos aqueles que sofrem injustamente?

A Palavra converte-se em oração:
Rezar Salmo 22 (21):
Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste,rejeitando o meu lamento, o meu grito de socorro?Meu Deus, clamo por ti durante o dia e não me respondes;durante a noite, e não tenho sossego.Tu, porém, és o Santoe habitas na glória de Israel.Em ti confiaram os nossos pais;confiaram e Tu os libertaste.A ti clamaram e foram salvos;confiaram em ti e não foram confundidos.Eu, porém, sou um verme e não um homem,o opróbrio dos homens e o desprezo da plebe.Todos os que me vêem escarnecem de mim;estendem os lábios e abanam a cabeça.«Confiou no Senhor, Ele que o livre;Ele que o salve, já que é seu amigo.»Na verdade, Tu me tiraste do seio materno;puseste-me em segurança ao peito de minha mãe.Pertenço-te desde o ventre materno;desde o seio de minha mãe, Tu és o meu Deus.Não te afastes de mim, porque estou atribuladoe não há quem me ajude.Rodeiam-me touros em manada;cercam-me touros ferozes de Basan.Abrem contra mim as suas fauces,como leão que despedaça e ruge.Fui derramado como água;e todos os meus ossos se desconjuntaram;o meu coração tornou-se como cerae derreteu-se dentro do meu peito.
A minha garganta secou-se como barro cozidoe a minha língua pegou-se-me ao céu da boca;reduziste-me ao pó da sepultura.Estou rodeado por matilhas de cães,envolvido por um bando de malfeitores;trespassaram as minhas mãos e os meus pés:posso contar todos os meus ossos.Eles olham para mim cheios de espanto!Repartem entre si as minhas vestese sorteiam a minha túnica.Mas Tu, Senhor, não te afastes de mim!És o meu auxílio: vem socorrer-me depressa!Livra a minha alma da espada,e, das garras dos cães, a minha vida.Salva-me da boca dos leões;livra-me dos chifres dos búfalos.Então anunciarei o teu nome aos meus irmãose te louvarei no meio da assembleia.Vós, que temeis o Senhor, louvai-o!Glorificai-o, descendentes de Jacob!Reverenciai-o, descendentes de Israel!Pois Ele não desprezou nem desdenhou a aflição do pobre,nem desviou dele a sua face;mas ouviu-o, quando lhe pediu socorro.De ti vem o meu louvor na grande assembleia;cumprirei os meus votos na presença dos teus fiéis.Os pobres comerão e serão saciados;louvarão o Senhor, os que o procuram.«Vivam para sempre os vossos corações.»Hão-de lembrar-se do Senhor e voltar-se para Eletodos os confins da terra;hão-de prostrar-se diante deletodos os povos e nações,porque ao Senhor pertence a realeza.Ele domina sobre todas as nações.
Diante dele hão-de prostrar-se todos os grandes da terra;diante dele hão-de inclinar-se todos os que descem ao póe assim deixam de viver.Uma nova geração o serviráe narrará aos vindouros as maravilhas do Senhor;ao povo que vai nascer dará a conhecer a sua justiça,contará o que Ele fez.ouÓ Pai, Deus de misericórdia e de perdão, olha com piedade os teus filhos culpados de terem pregado numa cruz o teu amado Filho.Pelo seu sangue derramado na solidão do abandono, lava todas as nossas culpas e rompe a dureza dos nossos corações, para que, purificados pelas lágrimas do arrependimento, acolhamos o dom da tua infinita compaixão, que é o único que nos pode tornar de novo inocentes.

terça-feira, 4 de março de 2008

Viver a Quaresma com o Verbo Divino - V

Ambientação:
No baptismo o homem passa da morte à vida (Evangelho e 1ª leitura) e chega a ser capaz de agradar a Deus vivendo do Espírito do ressuscitado (2ª leitura). Celebra-se o terceiro escrutínio e durante a semana entrega-se como tradição aos catecúmenos a oração do Senhor (o Pai-nosso).
Os catecúmenos eleitos reúnem todos os domingos, reflectem sobre os evangelhos, partilham uns com os outros como foi o seu caminho pessoal para acreditar em Jesus e no final da semana santa fazem um retiro de preparação para a vigila pascal, durante a qual recebem os sacramentos de iniciação cristã.


A Palavra de hoje:
Ezequiel 37, 12-14; Romanos 8, 8-11; João 11, 1-45.

Meditação:
- Ezequiel 37, 12-14
Na liturgia deste domingo fala-se da ressurreição num crescendo que vai desde o presente fragmento do Antigo Testamento à vitória definitiva de Cristo sobre a morte. Deus, pela boca de Ezequiel, anuncia a próxima abertura dos túmulos.
Trata-se do regresso dos desterrados. Desde o ano 586 a.c., os hebreus encontravam-se deportados na Babilónia e outros lugares, e o desalento apoderou-se dos seus corações, mas o Senhor vai fazer que o seu povo, que se sente como um morto em terra estrangeira, experimente directamente o seu poder vivificante. Deus é quem tem poder de cumprir quanto promete (cf. v.14b). Esse dia será como uma nova criação. As imagens que Ezequiel utiliza pré-anunciam a futura proclamação da salvação integral da humanidade na ressurreição de Jesus.

- João 11, 1-45
O texto da “ressurreição de Lázaro”prepara directamente os acontecimentos pascais e explicita um dos aspectos fundamentais da cristologia joanina. Num crescendo lento, no relato passa-se da narração da doença (vv.1-6), à morte e à sepultura (v.7-37), até à ressurreição ao quarto dia (vv.38-44). Nas entrelinhas aparece a humanidade de Jesus cheio de ternura, que não reprime as lágrimas nem os soluços (vv.33.35), e mostra Jesus numa família amiga - Marta, Maria e Lázaro.
Diante do maior obstáculo da vida que é a morte, a pergunta sobre a fé não é colocada a pessoas desconhecidas, mas a pessoas amigas e discípulas de Jesus. Diante da fé na ressurreição no último dia, já presente nalguns sectores judaicos e que Marta reafirma, Jesus declara-se Ele mesmo “EU SOU A RESSURREIÇÃO E A VIDA” (v.25). e pergunta-lhe: “Crês nisto?” O “credo” de Marta é em si igual ao de Pedro. Sim, Senhor, Tu és o Cristo, o Filho de Deus que vem ao mundo.
“Eu sou a ressurreição e a vida” é a palavra mais reveladora deste texto. Faz lembrar a revelação do nome “JAVÉ” (Ex. 3,14). O potente grito com que Jesus chama Lázaro para fora do sepulcro (v.43) tem a força do chamamento à vida do primeiro Adão (cf. Gen 2, 7) e o dramatismo da entrega do Espírito de Jesus na cruz: “ Jesus deu um grande grito: “Pai em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46). E o Pai, que sempre escuta o grito do inocente, vai dar a Jesus a Ressurreição que é a NOVA CRIAÇÃO.
Perguntas para reflexão:
- O que é que te diz este grupo de amigos de Jesus: Marta, Maria e Lázaro?
- Que tem isto a ver com o nosso conhecimento de Jesus e o nosso relacionamento com Ele como família
- Igreja doméstica?
- Qual foi a maior crise de fé para os discípulos de Jesus?
- Que relação tem este texto a ver com o nosso baptismo? (cf. Rom 6, 3-5)
- A experiência da morte de um ser querido ajudou-te a amadurecer na fé em Jesus? De que modo?
- Como devia influir a nossa fé na ressurreição, na forma de viver a morte desde agora e na vida de cada dia?

A Palavra converte-se em oração:
Salmo 116 (114-115):

Amo o Senhor,porque ouviu a voz do meu lamento. Ele inclinou para mim os seus ouvidos,no dia em que o invoquei.Cercaram-me os laços da morte,caíram sobre mim as angústias do sepulcro;estava aflito e cheio de ansiedade,mas invoquei o nome do Senhor:«Ó Senhor, salva-me a vida!»O Senhor é bondoso e compassivo,o nosso Deus é misericordioso.O Senhor guarda os simples;eu estava sem forças e Ele salvou-me.Volta, minha alma, ao teu repouso,porque o Senhor foi bom para contigo.Ele livrou da morte a minha vida,das lágrimas, os meus olhos,da queda, os meus pés.Andarei na presença do Senhor,no mundo dos vivos.Eu tinha confiança, mesmo quando disse:«A minha aflição é muito grande!»
Na minha perturbação, eu dizia:«Todo o homem é mentiroso!»Como retribuirei ao Senhortodos os seus benefícios para comigo?Elevarei o cálice da salvação,invocando o nome do Senhor.Cumprirei as minhas promessas feitas ao Senhorna presença de todo o seu povo.É preciosa aos olhos do Senhora morte dos seus fiéis.Senhor, sou teu servo, filho da tua serva;quebraste as minhas cadeias.Hei-de oferecer-te sacrifícios de louvor,invocando, Senhor, o teu nome.Cumprirei as minhas promessas feitas ao Senhorna presença de todo o seu povo,nos átrios da casa do Senhor,no meio de ti, Jerusalém!Aleluia!

O 2.º encontro do grupo de Diálogos Jovem (DJ) realizado na casa dos Missionários do Verbo Divino em Lisboa


domingo, 2 de março de 2008

Viver a Quaresma com o Verbo Divino - IV

Ambientação:
No baptismo o homem assume a sua condição de viver livre e como irmão, aceitando viver de Cristo (Evangelho); deixa-se capacitar para viver como filho da luz (2ª leitura), e é consagrado com a unção real (1ª leitura). Neste domingo, celebra-se o segundo escrutínio, isto é, oração da comunidade sobre os eleitos, para iluminação e purificação.
A Palavra de hoje:
1 Samuel 16, 1b.4a.6-7.10-13a, Efésios 5, 8-14, João 9, 1-41
Meditação:
- 1 Samuel 16, 1b.4a.6-7.10-13a
Com a unção de David a realeza passa à tribo de Judá: cumpre-se assim a predição de Jacob no seu leito de morte, vendo o futuro das diversas tribos (cf. Gen 49, 8-12). Também o ancião Samuel deve aprender a olhar com os olhos de Deus. Pois o Senhor “viu” (como indica literalmente o v.1b) entre os filhos de Jessé, um rei segundo a sua vontade e manda o profeta consagrá-lo. Como conhecer entre os jovens que desfilam diante dele o eleito de Deus? Samuel “vê” as qualidades do primogénito parecidas às de Saul, mas o Senhor indica outro critério de discernimento: o “ver” de Deus é distinto do “ver” humano (v. 7 no original), porque Deus olha ao coração, não ao exterior.
De acordo com este olhar divino, Samuel descarta os filhos mais velhos de Jessé (vv.8-10) e procede logo, sem duvidar, à unção do mais novo, sem ter em consideração o seu pai (v. 12). Sobre este “pequeno” se pousará de modo estável (v. 13b) o Espírito do Senhor, esse Espírito que só de modo ocasional tinha irrompido nos Juízes e que abandonou definitivamente a Saul (v.14), repudiado por Deus por causa da sua orgulhosa desobediência.Meditação
- João 9, 1-41
A narração do milagre do cego de nascença alcança todo o seu alcance teológico no contexto em que aparece: a festa das Tendas (Jo 7 – 10). Jesus revela-se a “luz do mundo” (8, 12), suscitando a consequente polémica com os fariseus. O milagre acontece nas imediações do templo. Os discípulos fazem uma pergunta: Quem pecou? O cego de nascença nada pede. É Jesus que o olha e toma a iniciativa de ungir-lhe os olhos.
O texto aborda um tema fundamental: a teologia da retribuição. Se alguém sofre é porque alguém pecou. Jesus afirma claramente: “não foi um pecado seu nem de seus pais”. A cegueira (sofrimento) indica mais claramente a situação do homem. Todos somos cegos de nascença. Todos estamos “enfermos” de uma enfermidade tão grave que não nos restam forças para recorrer ao único que pode curar.
A cura, a salvação é iniciativa de Jesus. A sua acção faz lembrar o relato da primeira Criação (cf. Gen. 2, 7; o barro, aplicado agora aos olhos: v.6). Para que o homem possa ver a luz, precisa-se de uma nova criação. Jesus dá uma ordem ao cego de nascença que, ao contrário de Adão, obedece. No cego de nascença vai-se dando um processo de fé. Vejamos os passos deste caminho para a fé.
1 – No primeiro encontro com Jesus, o cego de nascença não sabe quem é Jesus, mas obedece às suas palavras: “Vai, lava-te na piscina de Siloé”v.7 (Siloé, quer dizer enviado). Ir no caminho indicado.
2- Na surpresa e dúvida dos seus conhecidos, face à mudança que nele aconteceu, ele reafirma a sua identidade: “sou eu mesmo” v.9. e responde às perguntas sobre quem o curou e diz que foi esse homem que se chama Jesus. Assumir-se diante dos vizinhos e conhecidos.
3 - Depois levaram-no aos fariseus, representantes da religião, diante dos quais tem que responder de novo às perguntas: como que ficastes a ver? Neste momento ele tem a coragem de contradizer os chefes da religião e afirma que Jesus vem de Deus e é um profeta (v.16-17). Assumir-se diante dos representantes da religião.
4 - No passo seguinte é a família que tem que fala e que se nega por medo. Dizem aos fariseus para perguntarem ao próprio que já tem idade para responder. Assumir-se diante da família.
5 - Expulsam-no da sinagoga. Assumir o sofrimento por fidelidade
6 - Jesus ouviu dizer que o tinham expulsado e quando o encontrou disse-lhe: tu crês no Filho do homem? Receber a graça do segundo encontro com Jesus
7 - Ele respondeu: E quem é Senhor, para eu crer nele? Disse-lhe Jesus: Já o vistes. È aquele que está a falar contigo. Então exclamou. Eu Creio, Senhor! (vv 35-38) Professar a fé.

Perguntas para reflexão:
- Como era vista a doença no tempo de Jesus?- Como vai crescendo na fé o cego de nascença?- Olhando para este texto que dificuldades já enfrentastes para acreditar em Jesus?- De que cegueira necessitamos ser curados para nos tornarmos uma ver dadeira comunidade de irmãos e irmãs, filhos e filhas da luz?
- A Palavra torna-se oração - (Oração composta pelo Pe. Arnaldo e rezada cada 15 minutos por todos os confrades)
P: Deus verdade eterna,
A: Cremos em vós.
P: Deus, nossa força e salvação,
A: esperamos em vós.
P: Deus, bondade infinita
A: Amamo-vos de todo o coração
P: Enviastes o Verbo, Salvador do mundo
A: Fazei que n’Ele sejamos um.
P: Infundi em nós e Espírito do Filho,
A: Para que glorifiquemos o Vosso nome. Ámen.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Diálogo de Jesus com a mulher samaritana no Poço de Jacob


Viver a Quaresma com o Verbo Divino-III

Ambientação:
Como Israel ao longo do Êxodo, também o catecúmeno busca a água que o salve (1ª leitura). Jesus indica-lhe, como à samaritana, que tem uma água viva capaz de extinguir toda a sede e torna-se fonte de água jorrando para a vida eterna. (Evangelho). Esta água é o seu próprio Espírito (segunda leitura). Como já tinha anunciado João Baptista, Jesus é aquele que baptiza na água e no Espírito Santo. A Igreja neste domingo celebra o 1º escrutínio. Durante a semana tem lugar a entrega do símbolo (o Credo).
A Palavra de hoje:
Êxodo 17, 3-7; Romanos 5, 1-2.5-8; João 4, 5-42
Meditação
- Êxodo 17, 3-7
No seu caminho para a terra prometida, o povo sofre repetidamente fome e sede. Fome e sede são as duas constantes do caminho pelo deserto, terra de prova e de purificação, onde só se pode avançar por meio da fé. O episódio de Massa e Meriba é emblemático. Em primeiro lugar os nomes têm um significado eloquente: Massa (tentação, prova) e Meriba (murmuração, protesto). Depois do primeiro trecho do caminho, o povo já se encontra extenuado pela sede. Qual foi a sua atitude? Notemos os verbos “protesta”, “murmura”, “põe à prova”. Desconfia de Deus e duvida de que Moisés seja o homem enviado para salvá-lo; daí a pergunta que manifesta o seu cepticismo: “está ou não o Senhor no meio de nós?” (v.7)
Abre-se assim a segunda parte da narração: Moisés, como intercessor, invoca a ajuda do Senhor que responde em seguida, mandando-lhe golpear a rocha com o mesmo bastão com que tinha golpeado as águas do Nilo. E isto evidencia ao povo incrédulo a presença contínua de Deus, que, na plenitude dos tempos, se manifestará precisamente como o Emanuel, o Deus-connosco. Moisés obedeceu e brotou uma fonte de água. O episódio parece concluído. Sem dúvida, este acontecimento, como outros, por insignificantes que pareçam, terão uma grande ressonância tanto no povo eleito (cf Sl 77, 15s; 94,8; 104,41; Sab 11, 4) como na vida de Moisés. Por causa da falta de fé do povo e da sua própria dúvida (Num.20, 12) Moisés morreu sem entrar na terra prometida, contemplando-a só de longe (cf. Dt 34,4).
Meditação
- João 4, 5-42
O evangelista lê a revelação do mistério profundo da pessoa de Jesus nas vicissitudes quotidianas. É meio-dia. Junto ao poço de Sicar (v. 5; cf Gen 48,22) tem lugar o encontro e o diálogo insólito (v.8) entre uma mulher samaritana e um “judeu” (v.9). No seu diálogo a mulher vai ficando surpreendida com o comportamento e palavras de Jesus e vai-lhe fazendo perguntas sobre quem Ele é. Será ele “maior que Jacob”? (v. 12), afirma que é um profeta por que lhe disse tudo o que ela fez (v.39) e quando diz “eu sei que o Messias, que é chamado Cristo, está para vir” Jesus lhe revela: “sou Eu que estou a falar contigo.” (v.26) Sucessivamente vão chegando os discípulos (v. 27-38), finalmente outros samaritanos conterrâneos da mulher, trazidos por ela: “Eia! Vinde ver um homem” (v.29). Estes samaritanos, depois de encontrarem Jesus e de lhe pedirem que ficasse com eles, dizem: “Já não é pelas tuas palavras que acreditamos; nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é verdadeiramente o Salvador do mundo (v.40-42). Quem é, pois, aquele rabi que se atreve a conversar com uma mulher (v.26), e ainda por cima, samaritana, quer dizer, considerada herética (vv.17-24; cf 2 Re 17, 29-32) e pecadora (v. 18)? As pessoas que vieram ao seu encontro fazem um processo de fé e acabam por professar: “Ele é verdadeiramente o Salvador do mundo (v. 42), o que nos dá a água viva (v.10), isto é, o Espírito Santo. Estamos no cume da narração e do seu conteúdo teológico.Perguntas para reflexão- Desta passagem do Evangelho como podemos rever o nosso próprio processo de fé: como encontrei a Jesus na minha vida? - Que significa para nós que Jesus é a “água viva”? De que modo Jesus sacia a nossa sede?-Neste encontro de Jesus com a samaritana (samaritanos) que barreiras existiam e foram ultrapassadas?(Raça, género, religião) - Que preocupação temos em trazer outros a Cristo (v.29) para que eles próprios também o descubram e se alegrem? (v.42)A
Palavra converte-se em oração Salmo 63 (62) :
Ó Deus, Tu és o meu Deus! Anseio por ti!A minha alma tem sede de ti;todo o meu ser anela por ti,como terra árida, exausta e sem água.Quero contemplar-te no santuário,para ver o teu poder e a tua glória.O teu amor vale mais do que a vida;por isso, os meus lábios te hão-de louvar.Quero bendizer-te toda a minha vidae em teu louvor levantar as minhas mãos.A minha alma será saciada com deliciosos manjares,com vozes de júbilo te louvarei.Lembro-me de ti no meu leito,penso em ti, se fico acordado,
porque Tu és o meu auxílio,e à sombra das tuas asas eu exulto.A minha alma está unida a ti,a tua mão direita me sustenta.Os que procuram a minha ruína,cairão nas profundezas do abismo.Eles morrerão à espadae serão transformados em pasto de chacais.Mas o rei há-de alegrar-se em Deus,cantarão louvores os que juram por Ele,enquanto a boca dos mentirosos será fechada.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Atravessar o deserto da vida em conjunto num só coração e numa só alma é uma alegria que promete a felicidade para aqueles que cruzam no nosso caminho. Há muita gente "do outro lado" que está a esperar pela nossa alegria.




Grupo voluntário de "Diálogos Jovem" - Vilar formoso, 2007.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Viver a Quaresma com o Verbo Divino - II

Ambientação:
No Domingo passado dialogámos sobre os nossos desertos e as dificuldades que experimentamos no seguimento pessoal e comunitário de Jesus. Também não foi fácil para os primeiros discípulos entender que o seu Mestre ia a caminho de Jerusalém e que morreria na cruz. Neste contexto, Jesus anima-os a manterem-se fiéis no seu seguimento e mostra-lhes a luz da transfiguração, sinal da sua ressurreição.
A PALAVRA DE HOJE:
Génesis 12, 1-4a
Timóteo 1, 8b-10, Mateus 17, 1-9
Meditação - Génesis 12, 1-4a

Depois da aliança que Deus estabeleceu com Noé, em que Deus jurou fidelidade ao que criou (cf Gen 9), os homens continuam inclinados para o mal (cf. Gen 11). Mas Deus continua a buscar a comunhão com os homens: à dispersão de Babel segue a vocação de Abraão, chamado significativamente a romper todo o vínculo social e clânico para poder seguir incondicionalmente os caminhos do Senhor. (Gen 12, 1).
Ao mandato de Deus: “sai da tua terra…” segue-se uma promessa de bênção super abundante: em dois versículos aparece cinco vezes. Tal repetição indica os três âmbitos da acção de Deus em favor de Abraão. O primeiro é a promessa de uma posteridade humana impossível (Gen 11, 30), acompanhada de um nome imposto por Deus (como contraposição a Gen 11, 4). O segundo âmbito, manifestado no v. 3 a, amplia o horizonte a todos os que reconheçam e acolham a história de salvação que Deus inaugura a partir de Abraão: converter-se-ão em filhos da promessa. Pelo contrário, quem pretenda ser obstáculo não conseguirá o seu intento (cf. Num 22 – 24). No v. 3b o horizonte universaliza-se: o terceiro âmbito da acção benéfica de Deus é a inclusão de todas as raças da terra na história de salvação.Em Cristo, a promessa de Deus dilatou-se a todas as gentes (cf. Gal 3, 15-18) até à plenitude no Reino de Deus. Ao mandamento de Deus segue-se a obediência de Abraão, deixando que Deus disponha de si e do seu destino. Confiando nele pôs-se a caminho de outra terra, como lhe tinha dito o Senhor. Nesta marcha, não só Israel, mas todos “os filhos da promessa”, reconhecem o modelo das sucessivas saídas que o Senhor pedirá aos seus: o Êxodo, o regresso de Babilónia; no Novo Testamento o êxodo do próprio Jesus (morte e ressurreição) e o consequente seguimento dos discípulos no caminho de Jesus.

Meditação - Mateus 17, 1-9
No texto de Mateus, a narração da transfiguração começa com uma indicação cronológica “seis dias depois”. Esta cronologia mostra a ligação com o texto profissão de fé de Pedro, com o primeiro anúncio da paixão e com a declaração de que para ser discípulos é necessário segui-lo pelo caminho da cruz. No alto do monte, Jesus mostra-lhes o seu aspecto divino “mudando de aspecto” v.2. Mateus insiste particularmente na luz e no fulgor que emanam dele, evocando a figura do Filho do homem de Dan 10 e a narração da manifestação de Javé no cimo do monte Sinai (Ex 34, 29-33)As contínuas alusões às teofanias do Antigo Testamento (Ex 19, 16; 24, 3; 1 Re 19, 11) indicam que se está a passar algo extremamente importante: em Jesus, a antiga aliança vai transformar-se em “nova e eterna aliança”. A aparição de Moisés e Elias testemunha que Jesus é o cumprimento da Lei e dos profetas; é Ele que guiará o povo à verdadeira terra prometida - vida eterna no amor - e à integridade da fé em Deus.
A intervenção de Pedro (v.4) indica o contexto litúrgico da festa dos tabernáculos, a mais alegre e resplandecente de luzes, que comemorava o tempo do êxodo, quando Deus baixava ao meio do seu povo morando também numa tenda, a tenda do encontro. A nuvem da presença (skekinah), que agora desce e envolve os presentes, actualiza e leva à plenitude a liturgia: como declara a voz que se ouve do céu. Jesus é o profeta maior preanunciado pelo próprio Moisés (Dt 18, 15) e é-o por ser o Filho predilecto de Deus. A ordem é “escutai-O” (v.5)
Face esta manifestação extraordinária de glória, um grande temor se apodera dos discípulos. Jesus reanima-os com os seus gestos e a sua palavra (v.7), como o Filho do homem da visão de Daniel. Torna-se mais desconcertante e incompreensível para os discípulos o que Jesus já só, lhes diz: “não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do homem ressuscite dos mortos”.A liturgia de hoje pede-nos para entrar pelo caminho estreito e difícil; o caminho da fé obediente que exigiu a Abraão umas rupturas concretas e dirigir-se a metas desconhecidas. É o caminho da difícil perseverança que exige a Timóteo vencer o desalento e uma generosidade renovada do dom de si (2ª leitura). É o caminho do sofrimento e da morte que Jesus percorre, plenamente consciente, preparando os seus discípulos para que também o afrontem com fortaleza. Sem dúvida, é o único caminho que conduz à verdadeira vida, à glória autêntica, à luz sem ocaso.
Desde já nos é concedido a graça de antegozar um pouco o esplendor da transfiguração para prosseguir o caminho com entusiasmo. A promessa de bênção divina cobriu de esperança a vida de Abraão; a força de Deus ajuda Timóteo a obter a graça de Cristo para difundir o evangelho com entusiasmo; a visão de Cristo transfigurado dá lembrança de luz aos discípulos na hora da ignomínia e da cruz.
O sofrimento é fiel companheiro no caminho da vida, mas na prova não estamos sós: Jesus está a nosso lado com “varão de dores que conhece bem o que é sofrer”, como o primeiro que levou o peso da cruz. Isto basta para mantermo-nos confiantes que o seu poder se manifesta plenamente na nossa debilidade; nos injecta ânimo para assumir estas opções no caminho até à Páscoa e para dar testemunho da ressurreição.
Perguntas para reflexão- Que relação tem este texto da transfiguração com a etapa crítica na vida de Jesus (crise da Galileia!) e da fé dos discípulos? (cf. Mt 16, 13ss; Mt 14,22-33;Mc 10, 32).- Tenta descobrir quais foram na tua vida os momentos de luz, os momentos de transfiguração. Quando vistes outras pessoas com quem vives transfiguradas, bonitas, atraentes? - Onde encontramos hoje a Cristo transfigurado, ressuscitado e que nos transfigura?- Esta passagem da Transfiguração que motivos te dá para viveres com alegria e esperança este tempo da Quaresma? A que compromisso te leva?
A Palavra converte-se em oraçãoSenhor Jesus, que antes da Paixão mostrastes aos teus discípulos, o teu rosto glorioso,a fim de que não desfaleçam na hora da grande prova, convida-nos também a nós a subir contigo ao monte. No meio do silêncio e do recolhimento, faz que sintamos ressoar no nosso coração a tua Palavra,que é luz para os nossos passos e apoio para enfrentar,com uma fé sempre renovada, o caminho quotidiano da vida neste vale de lágrimas.Agradecemos-te pelos momentos de luz e transfiguraçãoque experimentámos na nossa vida e nos animam a continuar apesar das dificuldades.E, enquanto solícitos,avançamos na nossa peregrinação terrena até à casa do Pai, te pedimos, humildemente, pelos nossos irmãos mais pobres e sofredores, pelos nossos companheiros de viagem mais duramente provados e tentados pelo desfalecimento, que recebam desde já a graçade verem transfiguradas as suas dores naquela luz gloriosa que marca a passagem da cruz à glória da ressurreição.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Estar com Jesus em Geszemani

É preciso apreender d'Ele nos momentos mais difíceis da vida. A única espada para podermos sair das nossas aflições é estar com Deus através da Oração e meditação. O tempo da quaresma não é otempo da solidão, mas sim, um tempo de "namoro" com Deus, o tempo da oração, e da conversão.

Mensagem do Papa Para a Quaresma



MENSAGEM DE SUA SANTIDADE O PAPA BENTO XVI
PARA A QUARESMA DE 2008

«Cristo fez-Se pobre por vós» (cf. 2 Cor 8, 9)
Queridos irmãos e irmãs!

1. Todos os anos, a Quaresma oferece-nos uma providencial ocasião para aprofundar o sentido e o valor do nosso ser de cristãos, e estimula-nos a redescobrir a misericórdia de Deus a fim de nos tornarmos, por nossa vez, mais misericordiosos para com os irmãos. No tempo quaresmal, a Igreja tem o cuidado de propor alguns compromissos específicos que ajudem, concretamente, os fiéis neste processo de renovação interior: tais são a oração, o jejum e a esmola. Este ano, na habitual Mensagem quaresmal, desejo deter-me sobre a prática da esmola, que representa uma forma concreta de socorrer quem se encontra em necessidade e, ao mesmo tempo, uma prática ascética para se libertar da afeição aos bens terrenos. Jesus declara, de maneira peremptória, quão forte é a atracção das riquezas materiais e como deve ser clara a nossa decisão de não as idolatrar, quando afirma: «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Lc 16, 13). A esmola ajuda-nos a vencer esta incessante tentação, educando-nos para ir ao encontro das necessidades do próximo e partilhar com os outros aquilo que, por bondade divina, possuímos. Tal é a finalidade das colectas especiais para os pobres, que são promovidas em muitas partes do mundo durante a Quaresma. Desta forma, a purificação interior é corroborada por um gesto de comunhão eclesial, como acontecia já na Igreja primitiva. São Paulo fala disto mesmo quando, nas suas Cartas, se refere à colecta para a comunidade de Jerusalém (cf. 2 Cor 8-9; Rm 15, 25-27).

2. Segundo o ensinamento evangélico, não somos proprietários mas administradores dos bens que possuímos: assim, estes não devem ser considerados propriedade exclusiva, mas meios através dos quais o Senhor chama cada um de nós a fazer-se intermediário da sua providência junto do próximo. Como recorda o Catecismo da Igreja Católica, os bens materiais possuem um valor social, exigido pelo princípio do seu destino universal (cf. n. 2403).É evidente, no Evangelho, a admoestação que Jesus faz a quem possui e usa só para si as riquezas terrenas. À vista das multidões carentes de tudo, que passam fome, adquirem o tom de forte reprovação estas palavras de São João: «Aquele que tiver bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como pode estar nele o amor de Deus?» (1 Jo 3, 17). Entretanto, este apelo à partilha ressoa, com maior eloquência, nos Países cuja população é composta, na sua maioria, por cristãos, porque é ainda mais grave a sua responsabilidade face às multidões que penam na indigência e no abandono. Socorrê-las é um dever de justiça, ainda antes de ser um gesto de caridade.

3. O Evangelho ressalta uma característica típica da esmola cristã: deve ficar escondida. «Que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita», diz Jesus, «a fim de que a tua esmola permaneça em segredo» (Mt 6, 3-4). E, pouco antes, tinha dito que não devemos vangloriar-nos das nossas boas acções, para não corrermos o risco de ficar privados da recompensa celeste (cf. Mt 6, 1-2). A preocupação do discípulo é que tudo seja para a maior glória de Deus. Jesus admoesta: «Brilhe a vossa luz diante dos homens de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai que está nos Céus» (Mt 5, 16). Portanto, tudo deve ser realizado para glória de Deus, e não nossa. Queridos irmãos e irmãs, que esta consciência acompanhe cada gesto de ajuda ao próximo evitando que se transforme num meio nos pormos em destaque. Se, ao praticarmos uma boa acção, não tivermos como finalidade a glória de Deus e o verdadeiro bem dos irmãos, mas visarmos antes uma compensação de interesse pessoal ou simplesmente de louvor, colocamo-nos fora da lógica evangélica. Na moderna sociedade da imagem, é preciso redobrar de atenção, dado que esta tentação é frequente. A esmola evangélica não é simples filantropia: trata-se antes de uma expressão concreta da caridade, virtude teologal que exige a conversão interior ao amor de Deus e dos irmãos, à imitação de Jesus Cristo, que, ao morrer na cruz, Se entregou totalmente por nós. Como não agradecer a Deus por tantas pessoas que no silêncio, longe dos reflectores da sociedade mediática, realizam com este espírito generosas acções de apoio ao próximo em dificuldade? De pouco serve dar os próprios bens aos outros, se o coração se ensoberbece com isso: tal é o motivo por que não procura um reconhecimento humano para as obras de misericórdia realizadas quem sabe que Deus «vê no segredo» e no segredo recompensará.

4. Convidando-nos a ver a esmola com um olhar mais profundo que transcenda a dimensão meramente material, a Escritura ensina-nos que há mais alegria em dar do que em receber (cf. Act 20, 35). Quando agimos com amor, exprimimos a verdade do nosso ser: de facto, fomos criados a fim de vivermos não para nós próprios, mas para Deus e para os irmãos (cf. 2 Cor 5, 15). Todas as vezes que por amor de Deus partilhamos os nossos bens com o próximo necessitado, experimentamos que a plenitude de vida provém do amor e tudo nos retorna como bênção sob forma de paz, satisfação interior e alegria. O Pai celeste recompensa as nossas esmolas com a sua alegria. Mais ainda: São Pedro cita, entre os frutos espirituais da esmola, o perdão dos pecados. «A caridade – escreve ele – cobre a multidão dos pecados» (1 Pd 4, 8). Como se repete com frequência na liturgia quaresmal, Deus oferece-nos, a nós pecadores, a possibilidade de sermos perdoados. O facto de partilhar com os pobres o que possuímos, predispõe-nos para recebermos tal dom. Penso, neste momento, em quantos experimentam o peso do mal praticado e, por isso mesmo, se sentem longe de Deus, receosos e quase incapazes de recorrer a Ele. A esmola, aproximando-nos dos outros, aproxima-nos de Deus também e pode tornar-se instrumento de autêntica conversão e reconciliação com Ele e com os irmãos.

5. A esmola educa para a generosidade do amor. São José Bento Cottolengo costumava recomendar: «Nunca conteis as moedas que dais, porque eu sempre digo: se ao dar a esmola a mão esquerda não há de saber o que faz a direita, também a direita não deve saber ela mesma o que faz » (Detti e pensieri, Edilibri, n. 201). A este propósito, é muito significativo o episódio evangélico da viúva que, da sua pobreza, lança no tesouro do templo «tudo o que tinha para viver» (Mc 12, 44). A sua pequena e insignificante moeda tornou-se um símbolo eloquente: esta viúva dá a Deus não o supérfluo, não tanto o que tem como sobretudo aquilo que é; entrega-se totalmente a si mesma.Este episódio comovedor está inserido na descrição dos dias que precedem imediatamente a paixão e morte de Jesus, o Qual, como observa São Paulo, fez-Se pobre para nos enriquecer pela sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9); entregou-Se totalmente por nós. A Quaresma, nomeadamente através da prática da esmola, impele-nos a seguir o seu exemplo. Na sua escola, podemos aprender a fazer da nossa vida um dom total; imitando-O, conseguimos tornar-nos disponíveis para dar não tanto algo do que possuímos, mas darmo-nos a nós próprios. Não se resume porventura todo o Evangelho no único mandamento da caridade? A prática quaresmal da esmola torna-se, portanto, um meio para aprofundar a nossa vocação cristã. Quando se oferece gratuitamente a si mesmo, o cristão testemunha que não é a riqueza material que dita as leis da existência, mas o amor. Deste modo, o que dá valor à esmola é o amor, que inspira formas diversas de doação, segundo as possibilidades e as condições de cada um.

6. Queridos irmãos e irmãs, a Quaresma convida-nos a «treinar-nos» espiritualmente, nomeadamente através da prática da esmola, para crescermos na caridade e nos pobres reconhecermos o próprio Cristo. Nos Actos dos Apóstolos, conta-se que o apóstolo Pedro disse ao coxo que pedia esmola à porta do templo: «Não tenho ouro nem prata, mas vou dar-te o que tenho: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda» (Act 3, 6). Com a esmola, oferecemos algo de material, sinal do dom maior que podemos oferecer aos outros com o anúncio e o testemunho de Cristo, em cujo nome temos a vida verdadeira. Que este período se caracterize, portanto, por um esforço pessoal e comunitário de adesão a Cristo para sermos testemunhas do seu amor. Maria, Mãe e Serva fiel do Senhor, ajude os crentes a regerem o «combate espiritual» da Quaresma armados com a oração, o jejum e a prática da esmola, para chegarem às celebrações das Festas Pascais renovados no espírito. Com estes votos, de bom grado concedo a todos a Bênção Apostólica.
Vaticano, 30 de Outubro de 2007.

BENEDICTUS PP. XVI

Cruz que promete a Vida



Apa makna sebuah salib untuk kita?. Belajar dari pengalaman Yesus sendiri, Salib bukan saja didefinisikan sebagai lambang dari kematian, tetapi juga sumber dari sebuah kebangkitan akan kehidupan yang baru. Dua hal penting yang perlu kita pelajari dari salib Yesus di masa puasa ini: Yang pertama: Semangat untuk memberikan harapan hidup bagi mereka yang terluka dan menderita. "Hari ini juga engkau berada bersama aku di rumah Bapa", dan yang kedua: Membawa semua orang yang kita kasihi ke hadirat sang Ibu yang setia mendampingi putranya sampai di Golgota. Di atas salib, Yesus, sambil menatap Yohanes dengan air mata berdarah berkata kepada ibu-Nya: "Ibu, inilah anakmu, dan kepada Yohanes Dia berkata: Inilah ibumu". Seruan Yesus di atas Salib "Aku haus" kiranya membangkitkan semangat kita untuk memberikan "seteguk air" kepada setiap orang yang lagi membutuhkan bantuan kita. Suatu permintaan yang sangat halus untuk kita beramal kasih dengan semua orang yang lagi mengalami penderitaan yang sama.

Viver a Quaresma com o Verbo Divino - I


PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA

Ambientação:
No primeiro Domingo da Quaresma lemos o relato das tentações de Jesus segundo o Evangelho de S. Mateus, que nos convida a centrar-nos no que significaram as tentações na vida de Jesus e o que significam para nós, seus seguidores.
A Palavra de hoje: Génesis 2, 7-9; 3,1-7, Romanos 5, 12-19Mateus 4, 1-11
Meditação - Génesis 2, 7-9; 3,1-7
O plano de Deus e o problema do mal constituem, em síntese, os temas propostas pela liturgia neste texto. Da terra (adamah), da matéria, Deus forma o homem (adam) e insufla nele a sua própria respiração e o homem torna-se um ser vivente. Rodeia-o de bem e de beleza (v. 9), coloca-o num ambiente preparado com esmero e confia-lhe uma tarefa, uma missão: cultivar e guardar o jardim (a Terra) (v.15). Dá-lhe ampla liberdade para determinar e transformar a realidade que o rodeia mediante o trabalho e a autoridade pessoal (vv.9s). Decidir o que é bem ou o que é mal não é da competência do homem. Para discernir isso deve escutar a Deus. O pecado é desobediência à voz de Deus.

A árvore do conhecimento do bem e do mal é a própria consciência onde Deus fala. Na consciência nós não mandamos, obedecemos. O texto bíblico diz-nos que o mal também vem por uma influência externa que induz a uma opção errónea. O termo para indicar a serpente significa também adivinhação, os cultos idolátricos e de fertilidade, com o que o símbolo da serpente tinha muito que ver e que não deixavam de atrair Israel. No texto, a serpente trata da ordem de Deus (não comerás) como se fosse uma mentira. (v.4ss). Esta narração está a responder a uma pergunta fundamental da humanidade: se Deus é bom e fez tudo bem porque é que existe tanto mal neste mundo? O paradoxo está no facto de que, quando o homem não aceita Deus como o seu Criador e desobedece, traz o mal ao mundo e descobre a sua nudez, com outras palavras, que não é nada, que não tem nada que não lhe tivesse sido dado.Meditação - Mateus 4, 1-11Jesus, proclamado pelo Pai, Filho no qual tem toda a sua alegria, logo a seguir ao baptismo é conduzido “pelo Espírito” ao deserto onde vai ser tentado pelo diabo.

Jesus, que veio para recapitular toda a humanidade, deu total adesão à vontade do Pai. Adão e Eva e o povo de Israel não o fizeram. Jesus, no episódio das tentações, é submetido às mesmas tentações do povo do Êxodo, como indicam as citações do Deuteronómio com as quais responde a Satanás (Dt 8, 3; 6, 16; 6, 13). Mas onde Israel falhou, Jesus vence.
A manha diabólica começa por apresentar a Jesus as esperanças messiânicas e pedindo-lhe que demonstre se é verdade que é Filho de Deus como tinha afirmado a voz vinda do céu (cf. Mt 3, 17). À proposta de um messianismo que satisfaça com facilidade as necessidades materiais do homem, Jesus responde: “nem só de pão vive o homem mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. À imagem de uma missão milagreira e espectacular que o diabo lhe propõe, Jesus opõe uma submissão incondicional aos desígnios de Deus (vv.5-7). À tentação do êxito segue finalmente a do domínio – converter-se em senhor da terra, ceder à idolatria do poder –, mas o caminho messiânico que Cristo intuiu no deserto é muito diferente. Com a autoridade que lhe vem da sua dedicação plena a Deus, Ele, o perfeito adorador do Pai, vence as tentações.

Mateus apresenta-nos Jesus não só como o verdadeiro Israel, mas também como o novo Moisés, ao citar o jejum de quarenta dias e quarenta noites, e ao mencionar o “monte altíssimo” onde o diabo lhe mostra todos os reinos da terra, aludindo a Dt 34, 1-4. Estes quarenta dias no deserto preparam Jesus para que assuma a condução do novo povo de Deus, a quem Ele oferece a nova Lei no sermão da montanha (cf. Mt 5 – 7).Perguntas para reflexão - Quem conduz Jesus ao deserto?- Recordas outras passagens da Bíblia em que se fale do deserto? (Podes ler Dt 8, 2-3; Os 2, 16).- Jesus supera as tentações. Imediatamente depois, o que é que Ele anuncia? A que é que convida? (cf. Mt 4, 17-19)- As tentações de Jesus no deserto parecem-se às que as nossas comunidades cristãs têm que enfrentar hoje? Quais são elas? Como podemos vencê-las aprendendo de Jesus?A Palavra converte-se em oraçãoRezemos juntos o Salmo 51 (50):Tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua bondade;pela tua grande misericórdia, apaga o meu pecado.Lava-me de toda a iniquidade;purifica-me dos meus delitos.Reconheço as minhas culpase tenho sempre diante de mim os meus pecados.

Contra ti pequei, só contra ti,fiz o mal diante dos teus olhos;por isso é justa a tua sentençae recto o teu julgamento.Eis que nasci na culpae a minha mãe concebeu-me em pecado.Tu aprecias a verdade no íntimo do sere ensinas-me a sabedoria no íntimo da alma.
Purifica-me com o hissope e ficarei puro,lava-me e ficarei mais branco do que a neve.Faz-me ouvir palavras de gozo e alegriae exultem estes ossos que trituraste.Desvia o teu rosto dos meus pecadose apaga todas as minhas culpas.

Cria em mim, ó Deus, um coração puro;renova e dá firmeza ao meu espírito.Não me afastes da tua presença,nem me prives do teu santo espírito!Dá-me de novo a alegria da tua salvaçãoe sustenta-me com um espírito generoso.Então ensinarei aos transgressores os teus caminhose os pecadores hão-de voltar para ti.

Ó Deus, meu salvador, livra-me do crime de sangue,e a minha língua anunciará a tua justiça.Abre, Senhor, os meus lábios,para que a minha boca possa anunciar o teu louvor. Não te comprazes nos sacrifíciosnem te agrada qualquer holocausto que eu te ofereça.O sacrifício agradável a Deus é o espírito contrito;ó Deus, não desprezes um coração contrito e arrependido. Pela tua bondade, trata bem a Sião;reconstrói os muros de Jerusalém.Então aceitarás com agrado os sacrifícios devidos,os holocaustos e as ofertas;então serão oferecidos novilhos no teu altar.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Viver a Quaresma com o Verbo Divino


QUARTA-FEIRA DE CINZAS

AmbientaçãoA bênção e a imposição das cinzas são uma prática penitencial muito antiga. Nos primeiros séculos da Igreja os cristãos que haviam prejudicado a comunidade cristã com escândalos públicos, expiavam-nos durante a Quaresma. No começo deste tempo litúrgico recebiam as cinzas sobre as suas cabeças em sinal de humildade, e, a seguir, eram acompanhados à porta da Igreja. Até 5ª Feira-Santa não participavam nas assembleias da comunidade, mas permaneciam no átrio em sinal de penitência.Hoje, em que tudo se permite e tudo se procura contestar, não só se está a perder a consciência do pecado como também a própria realidade dramática do pecado. Ao ouvirmos a palavra de Deus “lembra-te que és pó” (terra) é hora de defendermos a Terra que está a ser destruída pela ganância do lucro.Na Quaresma orientemo-nos pela conversão – escutar Deus, e pela solidariedade – ajudar os necessitados. Jejum, hoje, é renunciar para mais partilhar.A Palavra de hoje:

Joel 2, 12-18Coríntios 5, 20-6, 2Mateus 6, 1-6. 16-18Meditação: Joel 2, 12-18A mensagem do profeta Joel foi pronunciada provavelmente depois do desterro, no templo de Jerusalém. Uma praga de gafanhotos devastou os campos, provocando carestia de bens e fome (1, 2 – 2, 10). Como consequência, cessou o culto dos sacrifícios no templo (1, 13-16). O profeta lê os sinais dos tempos e por isso anuncia a proximidade do dia do Senhor, convidando todo o povo ao jejum, à oração, à penitência (2, 12.15.-17a).

A palavra-chave deste texto, repetida três vezes nos primeiros versículos é voltar (shûb em Hebraico) verbo clássico da conversão. O v. 12 apresenta ao povo o convite, à conversão. Sem a renovação interior e a mudança do coração os ritos litúrgicos não agradam a Deus. No v. 13, o convite à conversão aparece de novo e a motivação é porque o Senhor é sempre misericordioso. No v. 14 o mesmo verbo se refere a Deus abrindo uma porta à esperança: “perdoará uma vez mais”. A conversão expressa-se num amor sincero a Deus, numa fé mais sólida, e numa esperança que se faz oração comunitária e penitente. Tendo estas disposições, o profeta e os sacerdotes poderão pedir ao Senhor que se mostre zeloso com a sua terra, compassivo com a sua herança (vv.17s).

Meditação - Mateus 6, 1-6.16-18Tende cuidado que a vossa justiça não seja como a dos fariseus (v.1). Jesus pede aos seus discípulos uma justiça superior à dos escribas e fariseus (cf. Mt 5, 20). Mesmo que as práticas exteriores sejam as mesmas, Jesus reclama a vigilância sobre as intenções que nos movem a actuar.
O evangelho repete primeiro as três obras típicas da piedade judaica: a esmola (6, 2-4); a oração (6, 5-15) e o jejum (6, 16-18). A novidade de Jesus é esta: essas obras não valem de nada se forem feitas para vanglória e a própria recompensa. O valor delas consiste em fazê-las diante do Pai que vê no segredo. Jesus completa a tradição ensinando-nos o Pai-nosso e ressaltando como é indispensável o perdão …”mas se não perdoardes aos homens também o vosso Pai não perdoará os vossos delitos” (Mt 6, 15).

Penitência e arrependimento não são sinónimos de abatimento, tristeza ou frustração; pelo contrário, constituem uma modalidade de abertura à luz que pode dissipar as obscuridades interiores, tornar-nos conscientes de nós mesmos na verdade e fazer-nos experimentar a misericórdia de Deus. Quem vive na presença de Deus, é livre.
Aquele que nos envolve com amor total liberta-nos do nosso mal e reveste-nos de uma inocência nova.O Senhor tinha confiado ao profeta a missão de convocar o povo para suscitar uma nova esperança através de um caminho penitencial; aos apóstolos confia-lhes o ministério da reconciliação; à Igreja hoje, encarrega-a de proclamar que agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação! Renovados pelo amor aprenderemos a viver sob o olhar do Pai, contentes de poder cumprir humildemente o que lhe agrada e ajudar os nossos irmãos. A sua presença no segredo do nosso coração será a verdadeira alegria, a única recompensa esperada e de que temos já um antegosto.

Perguntas para reflexão- Que significado tem para nós, hoje, o jejum, a oração, a esmola? - Com que atitudes devemos iniciar e viver o tempo da Quaresma?A Palavra converte-se em oraçãoMeu Pai, Tu que vês no escondido, sabes como fujo do mais íntimo de mim mesmo e como busco a admiração dos homens. Ó pobre recompensa do orgulho do meu “eu” que representa o seu papel na comédia humana!Muito distinto, muito mais desconcertante é o mistério da tua piedade, mas como ainda o ignoro, vou vagueando longe de Ti.Faz-me voltar, te suplico, à profundidade do meu ser onde tu moras. Na luz nova do arrependimento exultarei de alegria na tua presença. Pai nosso, que estás nos céus, tu conheces o mal do mundo e como eu para ele, cada dia, contribuo com o meu egoísmo e desobediência à tua Palavra. Ajuda-me hoje a acolher o dia da salvação; concede-me agora a graça de olhar para o teu Filho, tratado como pecador e crucificado por nós, por mim. Reconciliado por Ele, Amor infinito, viverei no amor humilde que não busca outra recompensa além de Ti.
Fonte: http:/www.verbodivino.pt

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A Imagem diz-te algo?

Jesus na sua vida histórica muitas vezes fala através das parábolas, imagens e outros sinais semelhantes para dizer aos seus algo de muito profundo - Yesus dalam sejarah hidup-Nya kadang-kadang berbicara dalam bentuk perumpamaan, gambar dan tanda-tanda lain yang serupa untuk mengatakan sesuatu yang mempunyai makna yang terdalam kekepada murid-murid-Nya.

Será que esta imagem diz-te algo? - Apakah gambar ini berbicara sesuatu untukmu?

sábado, 19 de janeiro de 2008

Kenangan 100 Tahun meninggalnya Pendiri SVD



"Banyak wajah termuat dalam satu hati" adalah moto yang menggambarkan spirit kehidupan dalam serikat Sabda Allah (SVD). Kenangan 1oo tahun meninggalnya dua orang kudus Allah ini, Santu Arnoldos Janssen dan Yosef Frinademetz kiranya menjadi moment yang sangat penting Untuk semua kita yang sedang dalam pencarian sebuahmakna kehidupan. Bersama kedua santu ini kita berdoa:
-Deus Verdade eterna
Cremos em Ti
- Deus nossa Força e Salvação
Esperamos em Ti
- Deus bondade infinita
Amamos Te de todo o coração
- Enviaste o Verbo Salvador do mundo
Faz que n'Ele sejamos todos um
- Infundi em nos o Espírito do Filho
Para que glorifiquemos o Seu nome, Amen

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

CORAÇÃO AD GENTES DA IGREJA NA CIDADE. Para um rosto missionário das paróquias num mundo em mudança


Estamos, sem dúvida, num mundo em profunda mudança. Na cidade hodierna cruzam-se pessoas de diferentes cores, culturas, línguas e credos. A busca de melhores condições de vida tão depressa traz para a cidade pessoas de outros países e de diferentes situações sociais, culturais e religiosas, como faz partir muitos dos seus anteriores habitantes. Dado o crescente pluralismo cultural e religioso, já não são os campanários das igrejas que marcam o ritmo da vida das pessoas da cidade. O Evangelho de Jesus Cristo é cada vez menos conhecido. E mesmo para aqueles que o conhecem, já perdeu muito do seu significado.Este cenário é preocupante e pede, com urgência, à Igreja presente na cidade dos homens uma nova cultura de evangelização, que vá muito para além de uma simples pastoral de manutenção. Deve notar-se que o termo euaggélion não é um mero nomen status, mas um nomen actionis: não pode ser traduzido por «evangelho» nem pode confundir-se com um livro colocado na estante; na verdade, significa «evangelização». E evangelização implica movimento e comunicação, e requer tempo, formação, entranhas e coração.As páginas que se seguem traçam as principais etapas da evangelização, detendo-se na terceira, por ser aquela em que estamos hoje. Olhando atentamente o nosso mundo e analisando a documentação da Igreja, teremos ainda presentes os desafios que o Papa Bento XVI lançou recentemente à Igreja em Portugal (Discurso ao Bispos portugueses, Visita ad Limina, Novembro de 2007), e retiraremos, no final, algumas inevitáveis conclusões.

I. AS TRÊS ETAPAS DA MISSÃO

1.1. Primeira etapa da missão
Na tarde daquele primeiro dia da semana, o Ressuscitado convoca-nos para a missão nova e frágil da paz e do perdão e do sopro criador: «20,21Disse-lhes então Jesus outra vez: “A paz convosco! Como (kathôs) me enviou (apéstalken: perf. de apostéllô) o Pai, também Eu vos mando ir (pémpô)”» (Jo 20,21). 22E tendo dito isto, soprou (enephýsêsen) e diz-lhes: “Recebei o Espírito Santo. 23Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, serão retidos”» (Jo 20,21-23). Como em muitas outras passagens, o uso do verbo apostéllô (enviar) acentua o papel do «enviado», que é Jesus, do mesmo modo que o uso do verbo pémpô (também enviar) sublinha o papel do «enviante»[1], que, neste caso, continua a ser Jesus. Por outro lado ainda, o envio de Jesus apresenta-se no perfeito grego, pelo que a sua missão começou e continua. Não terminou. Ele continua em missão. A nossa missão está no presente. O presente da nossa missão aparece, portanto, agrafado à missão de Jesus[2], e não faz sentido sem ela e sem Ele: «Como me enviou o Pai, também eu vos mando ir». Nós implicados e imbricados n’Ele e na missão d’Ele, sabendo nós que Ele está connosco todos os dias (cf. Mt 28,20). E aquele «como» define o estilo da nossa missão de acordo com o estilo da missão de Jesus, que nos ama descendo ao nosso nível[3].Assim, a missão nova e frágil da paz e do perdão e do sopro criador foi-se espalhando pelas diferentes parcelas do mundo. É a primeira, e sempre paradigmática, etapa da missão. Sem pesos atrás, sem móveis nem imóveis, sem ouro nem prata nem cobre, sem alforge nem duas túnicas, com Cristo apenas (cf. Mt 10,9-10; Act 3,6).

1.2. Segunda etapa da missão
Durante a Idade Média, pensou-se mesmo que o Evangelho já tinha chegado ao mundo inteiro, e que o mundo inteiro era cristão[4]. Mas as grandes descobertas dos séculos XV e XVI vieram mostrar a existência de um vasto mundo que ainda não conhecia o Evangelho. Deu-se então início à segunda etapa da missão. E então as grandes Ordens Religiosas (Jesuítas, Dominicanos, Franciscanos) começaram a partir da Europa («território de cristandade») para os territórios não evangelizados («territórios de missão»). Este esforço de missionação recebeu um novo impulso nos séculos XIX e XX com o contributo de Institutos especializados (Padres Brancos, Combonianos, Espiritanos, Oblatos de Maria Imaculada, Sociedades Missionárias de Vida Apostólica).Este imenso esforço de missionação tinha o seu centro de organização e orientação em Roma (os Bispos das Igrejas dos «territórios de cristandade» estavam fora deste planeamento), onde, em 1572, foi criada a Comissão Pontifícia De Propaganda Fide, convertida em Congregação De Propaganda Fide em 1622[5].Enquadrando-se já no contexto da terceira etapa da missão, é significativa a sua transformação em Congregação para a Evangelização dos Povos em 1967, fazendo ver que é agora à Igreja inteira que compete a causa missionária: todos os Bispos, e, com eles, todas as Igrejas locais, são «colegialmente» responsáveis pela evangelização do mundo[6].

1.3. Terceira etapa da missão
Com o Concílio Vaticano II abre-se a terceira etapa da missão. O Decreto Ad Gentes (AG), de 7 de Dezembro de 1965, afirma logo a abrir que «A Igreja é por sua natureza missionária» (n.º 2), e convoca a Igreja inteira para a tarefa missionária. Este aspecto será desenvolvido e acentuado por documentos posteriores, como a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (EN), de 8 de Dezembro de 1975, de Paulo VI, a Instrução Postquam Apostoli (PA) sobre a necessidade da cooperação entre as Igrejas particulares, de 25 de Março de 1980, da Congregação para o Clero, o Documento «Diálogo e Missão» (DM), de 10 de Junho de 1984, do Secretariado para os não-cristãos, a Carta Apostólica Redemptoris Missio (RM), de 7 de Dezembro de 1990, de João Paulo II, a Instrução «Diálogo e Anúncio» (DA), de 19 de Maio de 1991, do Pontifício Conselho para o Diálogo inter-religioso e da Congregação para a Evangelização dos Povos, a Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte (NMI), de João Paulo II, de 6 de Janeiro de 2001.Tendo em conta que o objectivo principal é mudar o coração e a atitude das paróquias, não podemos deixar de referir aqui também três importantes documentos da Conferência Episcopal Italiana (CEI): Comunicar o Evangelho num mundo em mudança. Orientações pastorais do episcopado italiano para o primeiro decénio de 2000 (CEMM)[7], de 29 de Junho de 2001; O rosto missionário das paróquias num mundo em mudança. Nota pastoral (RMP)[8], de 30 de Maio de 2004; Esta é a nossa fé. Nota pastoral sobre o primeiro anúncio do Evangelho (ENF)[9], de 15 de Maio de 2005. A elaboração de O rosto missionário das paróquias num mundo em mudança mobilizou a Igreja italiana e recolheu contributos de especialistas, agentes de pastoral e leigos, empenhou os Bispos da CEI durante mais de dois anos, em várias sessões do Conselho Permanente e três Assembleias Plenárias: a de Maio de 2003, em Roma, dedicada à «Iniciação Cristã»; a de Novembro de 2003, em Assis, sobre «A Paróquia: Igreja que vive no meio das casas dos homens»; a de Maio de 2004, em Roma, em que se ultimou este Documento que visa delinear o rosto missionário que devem assumir as paróquias.Todos estes Documentos insistem em que a missão é tarefa da Igreja toda e de cada uma das Igrejas, que a missão diz respeito a todos os cristãos, a todas as dioceses e paróquias, instituições e associações eclesiais, aos bispos, aos presbíteros, aos religiosos e aos fiéis leigos. Para esta terceira etapa da missão, todos, mesmo todos, estamos convocados. E todos não somos demais. Em 1965, o Concílio calculava em dois mil milhões (2.000.000.000) o número de não-cristãos (AG, n.º 10). Vinte e cinco anos depois, em 1990, João Paulo II refere que este número quase duplicou (RM, n.º 3). A missiografia calculava para esse ano de 1990 três mil quatrocentos e quarenta e nove milhões e oitenta e quatro mil (3.449.084.000) não-cristãos[10], e para o ano 2.000 o número de quatro mil e sessenta e nove milhões e seiscentos e setenta e dois mil (4.069.672.000) não-cristãos[11]. Em 2006 esse número subia para quatro mil e trezentos e setenta e três milhões e setenta e seis mil (4.373.076.000) não-cristãos[12]. As estimativas apontam para 2025 uma população mundial de 7.851.455.000, com 2.630.559.000 cristãos (1.334.338.000 católicos), e 5.220.896.000 não-cristãos[13].
D. António Couto. Continua.....

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Um Novo Sol de 2008 se Levantou

Um novo sol se levantou. O final do ano de 2007 despediu-se e deixou o espaço para a vinda de um novo ano. Bem vindo a ti 2008 e abra a sua porta para nós entrarmos. Estamos a entrar no novo espaço da vida. Ainda não se sabe se as páginas deste novo ano são rectas ou tourtas. Tudo é segredo. Mas, isto não significa devemos viver nas preocupações profundas. Se calhar o mais importante para mim e para ti é confiar n'Aquele que criou o tempo e espaço. Só Ele que pode dar nos a certeza da vida. Seja como for o tipo das linhas deste livro novo do ano 2008, Deus continua a escrever nas linhas que lá existem. Feliz Ano Novo para ti e para todos.