segunda-feira, 10 de março de 2008

Viver a Quaresma com o Verbo Divino -VI

A Palavra de hoje:

Isaís 50, 4-7; Filipenses 2, 6-11; Mateus 26, 14 – 27, 66
Meditação
- Isaís 50, 4-7
A fidelidade a Deus e aos homens – à missão recebida em seu favor – faz que o Servo de Javé permaneça firme no sofrimento, na ignomínia, no aparente fracasso. Atento discípulo da Palavra de Deus, profeta e mestre de sabedoria com o povo, com a sua sorte prefigura a de Cristo, o humilde que não opôs resistência à vontade do Pai nem se subtraiu à maldade dos homens, seguro – até à hora suprema do abandono na cruz – de que o desígnio de Deus é dom de salvação que se oferece a todos (v.7; cf. Mc 15, 34 e Lc 23, 43.46).
- Mateus 26, 14 – 27, 66
A paixão de Jesus é paradoxalmente – na narração de Mateus – a paixão do Filho do homem, do Senhor da glória, do Juiz universal. Ele é o Deus-connosco, e salva-nos pelo caminho do Servo sofredor, sendo crucificado “como cordeiro conduzido ao matadouro”. Aí nos deu a prova máxima do plano de Deus que é amor. Aquele que podia ter recorrido a mais de doze legiões de anjos para livrar-se das mãos dos homens, deixa-se capturar sem resistência (26, 50b-54); cala-se diante dos “grandes” sem utilizar manifestações sobrenaturais (27, 14.19); reza três vezes humildemente ao Pai, (v.39.42.44), sofre a solidão (v.40) e partilha com os discípulos a sua tristeza de morte (v.38) e a sua debilidade da sua carne (26, 41b).
A sua morte na cruz rubrica a passagem para uma condição totalmente nova: o fim de um culto de sacrifícios, “o véu do templo rasgou-se”, (v.51) e a nova criação: a terra tremeu… e abriram-se os túmulos (v.51-52) e a plena manifestação de que o Crucificado é o Filho de Deus: o centurião e os que guardavam Jesus, muito amedrontados, disseram: de facto, este era o filho de Deus (v.54). De acordo com a perspectiva do seu evangelho, Mateus, mais que os outros evangelistas, insiste no cumprimento das Escrituras – explicitamente ou por meio de citações – para indicar que a paixão faz parte do plano salvífico de Deus.
O absurdo da humanidade, encarnada no povo eleito, é que toda a vida se espera a salvação e na hora em que ela aparece, mata-a: Vós acusastes o Santo e o Justo e exigistes que fosse agraciado para vós um assassino, enquanto fazíeis morrer o príncipe da vida (Act 3, 14-15).
Perguntas para reflexãoNo relato da Paixão segundo Mateus aparecem várias personagens secundárias:
- Qual é a atitude frente a Jesus da mulher de Betânia, de Pilatos e da sua mulher, dos soldados ao pé da cruz, de Simão de Cirene, das mulheres que seguem Jesus desde a Galileia, de José de Arimateia?
- Qual é a atitude dos discípulos?
- Como entendes a multidão que tão depressa o aclama como pede a sua morte?
- Como reagimos quando vemos alguém a sofrer injustamente?
- Estamos conscientes de que a Paixão de Cristo continua em todos aqueles que sofrem injustamente?

A Palavra converte-se em oração:
Rezar Salmo 22 (21):
Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste,rejeitando o meu lamento, o meu grito de socorro?Meu Deus, clamo por ti durante o dia e não me respondes;durante a noite, e não tenho sossego.Tu, porém, és o Santoe habitas na glória de Israel.Em ti confiaram os nossos pais;confiaram e Tu os libertaste.A ti clamaram e foram salvos;confiaram em ti e não foram confundidos.Eu, porém, sou um verme e não um homem,o opróbrio dos homens e o desprezo da plebe.Todos os que me vêem escarnecem de mim;estendem os lábios e abanam a cabeça.«Confiou no Senhor, Ele que o livre;Ele que o salve, já que é seu amigo.»Na verdade, Tu me tiraste do seio materno;puseste-me em segurança ao peito de minha mãe.Pertenço-te desde o ventre materno;desde o seio de minha mãe, Tu és o meu Deus.Não te afastes de mim, porque estou atribuladoe não há quem me ajude.Rodeiam-me touros em manada;cercam-me touros ferozes de Basan.Abrem contra mim as suas fauces,como leão que despedaça e ruge.Fui derramado como água;e todos os meus ossos se desconjuntaram;o meu coração tornou-se como cerae derreteu-se dentro do meu peito.
A minha garganta secou-se como barro cozidoe a minha língua pegou-se-me ao céu da boca;reduziste-me ao pó da sepultura.Estou rodeado por matilhas de cães,envolvido por um bando de malfeitores;trespassaram as minhas mãos e os meus pés:posso contar todos os meus ossos.Eles olham para mim cheios de espanto!Repartem entre si as minhas vestese sorteiam a minha túnica.Mas Tu, Senhor, não te afastes de mim!És o meu auxílio: vem socorrer-me depressa!Livra a minha alma da espada,e, das garras dos cães, a minha vida.Salva-me da boca dos leões;livra-me dos chifres dos búfalos.Então anunciarei o teu nome aos meus irmãose te louvarei no meio da assembleia.Vós, que temeis o Senhor, louvai-o!Glorificai-o, descendentes de Jacob!Reverenciai-o, descendentes de Israel!Pois Ele não desprezou nem desdenhou a aflição do pobre,nem desviou dele a sua face;mas ouviu-o, quando lhe pediu socorro.De ti vem o meu louvor na grande assembleia;cumprirei os meus votos na presença dos teus fiéis.Os pobres comerão e serão saciados;louvarão o Senhor, os que o procuram.«Vivam para sempre os vossos corações.»Hão-de lembrar-se do Senhor e voltar-se para Eletodos os confins da terra;hão-de prostrar-se diante deletodos os povos e nações,porque ao Senhor pertence a realeza.Ele domina sobre todas as nações.
Diante dele hão-de prostrar-se todos os grandes da terra;diante dele hão-de inclinar-se todos os que descem ao póe assim deixam de viver.Uma nova geração o serviráe narrará aos vindouros as maravilhas do Senhor;ao povo que vai nascer dará a conhecer a sua justiça,contará o que Ele fez.ouÓ Pai, Deus de misericórdia e de perdão, olha com piedade os teus filhos culpados de terem pregado numa cruz o teu amado Filho.Pelo seu sangue derramado na solidão do abandono, lava todas as nossas culpas e rompe a dureza dos nossos corações, para que, purificados pelas lágrimas do arrependimento, acolhamos o dom da tua infinita compaixão, que é o único que nos pode tornar de novo inocentes.

terça-feira, 4 de março de 2008

Viver a Quaresma com o Verbo Divino - V

Ambientação:
No baptismo o homem passa da morte à vida (Evangelho e 1ª leitura) e chega a ser capaz de agradar a Deus vivendo do Espírito do ressuscitado (2ª leitura). Celebra-se o terceiro escrutínio e durante a semana entrega-se como tradição aos catecúmenos a oração do Senhor (o Pai-nosso).
Os catecúmenos eleitos reúnem todos os domingos, reflectem sobre os evangelhos, partilham uns com os outros como foi o seu caminho pessoal para acreditar em Jesus e no final da semana santa fazem um retiro de preparação para a vigila pascal, durante a qual recebem os sacramentos de iniciação cristã.


A Palavra de hoje:
Ezequiel 37, 12-14; Romanos 8, 8-11; João 11, 1-45.

Meditação:
- Ezequiel 37, 12-14
Na liturgia deste domingo fala-se da ressurreição num crescendo que vai desde o presente fragmento do Antigo Testamento à vitória definitiva de Cristo sobre a morte. Deus, pela boca de Ezequiel, anuncia a próxima abertura dos túmulos.
Trata-se do regresso dos desterrados. Desde o ano 586 a.c., os hebreus encontravam-se deportados na Babilónia e outros lugares, e o desalento apoderou-se dos seus corações, mas o Senhor vai fazer que o seu povo, que se sente como um morto em terra estrangeira, experimente directamente o seu poder vivificante. Deus é quem tem poder de cumprir quanto promete (cf. v.14b). Esse dia será como uma nova criação. As imagens que Ezequiel utiliza pré-anunciam a futura proclamação da salvação integral da humanidade na ressurreição de Jesus.

- João 11, 1-45
O texto da “ressurreição de Lázaro”prepara directamente os acontecimentos pascais e explicita um dos aspectos fundamentais da cristologia joanina. Num crescendo lento, no relato passa-se da narração da doença (vv.1-6), à morte e à sepultura (v.7-37), até à ressurreição ao quarto dia (vv.38-44). Nas entrelinhas aparece a humanidade de Jesus cheio de ternura, que não reprime as lágrimas nem os soluços (vv.33.35), e mostra Jesus numa família amiga - Marta, Maria e Lázaro.
Diante do maior obstáculo da vida que é a morte, a pergunta sobre a fé não é colocada a pessoas desconhecidas, mas a pessoas amigas e discípulas de Jesus. Diante da fé na ressurreição no último dia, já presente nalguns sectores judaicos e que Marta reafirma, Jesus declara-se Ele mesmo “EU SOU A RESSURREIÇÃO E A VIDA” (v.25). e pergunta-lhe: “Crês nisto?” O “credo” de Marta é em si igual ao de Pedro. Sim, Senhor, Tu és o Cristo, o Filho de Deus que vem ao mundo.
“Eu sou a ressurreição e a vida” é a palavra mais reveladora deste texto. Faz lembrar a revelação do nome “JAVÉ” (Ex. 3,14). O potente grito com que Jesus chama Lázaro para fora do sepulcro (v.43) tem a força do chamamento à vida do primeiro Adão (cf. Gen 2, 7) e o dramatismo da entrega do Espírito de Jesus na cruz: “ Jesus deu um grande grito: “Pai em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46). E o Pai, que sempre escuta o grito do inocente, vai dar a Jesus a Ressurreição que é a NOVA CRIAÇÃO.
Perguntas para reflexão:
- O que é que te diz este grupo de amigos de Jesus: Marta, Maria e Lázaro?
- Que tem isto a ver com o nosso conhecimento de Jesus e o nosso relacionamento com Ele como família
- Igreja doméstica?
- Qual foi a maior crise de fé para os discípulos de Jesus?
- Que relação tem este texto a ver com o nosso baptismo? (cf. Rom 6, 3-5)
- A experiência da morte de um ser querido ajudou-te a amadurecer na fé em Jesus? De que modo?
- Como devia influir a nossa fé na ressurreição, na forma de viver a morte desde agora e na vida de cada dia?

A Palavra converte-se em oração:
Salmo 116 (114-115):

Amo o Senhor,porque ouviu a voz do meu lamento. Ele inclinou para mim os seus ouvidos,no dia em que o invoquei.Cercaram-me os laços da morte,caíram sobre mim as angústias do sepulcro;estava aflito e cheio de ansiedade,mas invoquei o nome do Senhor:«Ó Senhor, salva-me a vida!»O Senhor é bondoso e compassivo,o nosso Deus é misericordioso.O Senhor guarda os simples;eu estava sem forças e Ele salvou-me.Volta, minha alma, ao teu repouso,porque o Senhor foi bom para contigo.Ele livrou da morte a minha vida,das lágrimas, os meus olhos,da queda, os meus pés.Andarei na presença do Senhor,no mundo dos vivos.Eu tinha confiança, mesmo quando disse:«A minha aflição é muito grande!»
Na minha perturbação, eu dizia:«Todo o homem é mentiroso!»Como retribuirei ao Senhortodos os seus benefícios para comigo?Elevarei o cálice da salvação,invocando o nome do Senhor.Cumprirei as minhas promessas feitas ao Senhorna presença de todo o seu povo.É preciosa aos olhos do Senhora morte dos seus fiéis.Senhor, sou teu servo, filho da tua serva;quebraste as minhas cadeias.Hei-de oferecer-te sacrifícios de louvor,invocando, Senhor, o teu nome.Cumprirei as minhas promessas feitas ao Senhorna presença de todo o seu povo,nos átrios da casa do Senhor,no meio de ti, Jerusalém!Aleluia!

O 2.º encontro do grupo de Diálogos Jovem (DJ) realizado na casa dos Missionários do Verbo Divino em Lisboa


domingo, 2 de março de 2008

Viver a Quaresma com o Verbo Divino - IV

Ambientação:
No baptismo o homem assume a sua condição de viver livre e como irmão, aceitando viver de Cristo (Evangelho); deixa-se capacitar para viver como filho da luz (2ª leitura), e é consagrado com a unção real (1ª leitura). Neste domingo, celebra-se o segundo escrutínio, isto é, oração da comunidade sobre os eleitos, para iluminação e purificação.
A Palavra de hoje:
1 Samuel 16, 1b.4a.6-7.10-13a, Efésios 5, 8-14, João 9, 1-41
Meditação:
- 1 Samuel 16, 1b.4a.6-7.10-13a
Com a unção de David a realeza passa à tribo de Judá: cumpre-se assim a predição de Jacob no seu leito de morte, vendo o futuro das diversas tribos (cf. Gen 49, 8-12). Também o ancião Samuel deve aprender a olhar com os olhos de Deus. Pois o Senhor “viu” (como indica literalmente o v.1b) entre os filhos de Jessé, um rei segundo a sua vontade e manda o profeta consagrá-lo. Como conhecer entre os jovens que desfilam diante dele o eleito de Deus? Samuel “vê” as qualidades do primogénito parecidas às de Saul, mas o Senhor indica outro critério de discernimento: o “ver” de Deus é distinto do “ver” humano (v. 7 no original), porque Deus olha ao coração, não ao exterior.
De acordo com este olhar divino, Samuel descarta os filhos mais velhos de Jessé (vv.8-10) e procede logo, sem duvidar, à unção do mais novo, sem ter em consideração o seu pai (v. 12). Sobre este “pequeno” se pousará de modo estável (v. 13b) o Espírito do Senhor, esse Espírito que só de modo ocasional tinha irrompido nos Juízes e que abandonou definitivamente a Saul (v.14), repudiado por Deus por causa da sua orgulhosa desobediência.Meditação
- João 9, 1-41
A narração do milagre do cego de nascença alcança todo o seu alcance teológico no contexto em que aparece: a festa das Tendas (Jo 7 – 10). Jesus revela-se a “luz do mundo” (8, 12), suscitando a consequente polémica com os fariseus. O milagre acontece nas imediações do templo. Os discípulos fazem uma pergunta: Quem pecou? O cego de nascença nada pede. É Jesus que o olha e toma a iniciativa de ungir-lhe os olhos.
O texto aborda um tema fundamental: a teologia da retribuição. Se alguém sofre é porque alguém pecou. Jesus afirma claramente: “não foi um pecado seu nem de seus pais”. A cegueira (sofrimento) indica mais claramente a situação do homem. Todos somos cegos de nascença. Todos estamos “enfermos” de uma enfermidade tão grave que não nos restam forças para recorrer ao único que pode curar.
A cura, a salvação é iniciativa de Jesus. A sua acção faz lembrar o relato da primeira Criação (cf. Gen. 2, 7; o barro, aplicado agora aos olhos: v.6). Para que o homem possa ver a luz, precisa-se de uma nova criação. Jesus dá uma ordem ao cego de nascença que, ao contrário de Adão, obedece. No cego de nascença vai-se dando um processo de fé. Vejamos os passos deste caminho para a fé.
1 – No primeiro encontro com Jesus, o cego de nascença não sabe quem é Jesus, mas obedece às suas palavras: “Vai, lava-te na piscina de Siloé”v.7 (Siloé, quer dizer enviado). Ir no caminho indicado.
2- Na surpresa e dúvida dos seus conhecidos, face à mudança que nele aconteceu, ele reafirma a sua identidade: “sou eu mesmo” v.9. e responde às perguntas sobre quem o curou e diz que foi esse homem que se chama Jesus. Assumir-se diante dos vizinhos e conhecidos.
3 - Depois levaram-no aos fariseus, representantes da religião, diante dos quais tem que responder de novo às perguntas: como que ficastes a ver? Neste momento ele tem a coragem de contradizer os chefes da religião e afirma que Jesus vem de Deus e é um profeta (v.16-17). Assumir-se diante dos representantes da religião.
4 - No passo seguinte é a família que tem que fala e que se nega por medo. Dizem aos fariseus para perguntarem ao próprio que já tem idade para responder. Assumir-se diante da família.
5 - Expulsam-no da sinagoga. Assumir o sofrimento por fidelidade
6 - Jesus ouviu dizer que o tinham expulsado e quando o encontrou disse-lhe: tu crês no Filho do homem? Receber a graça do segundo encontro com Jesus
7 - Ele respondeu: E quem é Senhor, para eu crer nele? Disse-lhe Jesus: Já o vistes. È aquele que está a falar contigo. Então exclamou. Eu Creio, Senhor! (vv 35-38) Professar a fé.

Perguntas para reflexão:
- Como era vista a doença no tempo de Jesus?- Como vai crescendo na fé o cego de nascença?- Olhando para este texto que dificuldades já enfrentastes para acreditar em Jesus?- De que cegueira necessitamos ser curados para nos tornarmos uma ver dadeira comunidade de irmãos e irmãs, filhos e filhas da luz?
- A Palavra torna-se oração - (Oração composta pelo Pe. Arnaldo e rezada cada 15 minutos por todos os confrades)
P: Deus verdade eterna,
A: Cremos em vós.
P: Deus, nossa força e salvação,
A: esperamos em vós.
P: Deus, bondade infinita
A: Amamo-vos de todo o coração
P: Enviastes o Verbo, Salvador do mundo
A: Fazei que n’Ele sejamos um.
P: Infundi em nós e Espírito do Filho,
A: Para que glorifiquemos o Vosso nome. Ámen.