sábado, 9 de fevereiro de 2008

Viver a Quaresma com o Verbo Divino - I


PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA

Ambientação:
No primeiro Domingo da Quaresma lemos o relato das tentações de Jesus segundo o Evangelho de S. Mateus, que nos convida a centrar-nos no que significaram as tentações na vida de Jesus e o que significam para nós, seus seguidores.
A Palavra de hoje: Génesis 2, 7-9; 3,1-7, Romanos 5, 12-19Mateus 4, 1-11
Meditação - Génesis 2, 7-9; 3,1-7
O plano de Deus e o problema do mal constituem, em síntese, os temas propostas pela liturgia neste texto. Da terra (adamah), da matéria, Deus forma o homem (adam) e insufla nele a sua própria respiração e o homem torna-se um ser vivente. Rodeia-o de bem e de beleza (v. 9), coloca-o num ambiente preparado com esmero e confia-lhe uma tarefa, uma missão: cultivar e guardar o jardim (a Terra) (v.15). Dá-lhe ampla liberdade para determinar e transformar a realidade que o rodeia mediante o trabalho e a autoridade pessoal (vv.9s). Decidir o que é bem ou o que é mal não é da competência do homem. Para discernir isso deve escutar a Deus. O pecado é desobediência à voz de Deus.

A árvore do conhecimento do bem e do mal é a própria consciência onde Deus fala. Na consciência nós não mandamos, obedecemos. O texto bíblico diz-nos que o mal também vem por uma influência externa que induz a uma opção errónea. O termo para indicar a serpente significa também adivinhação, os cultos idolátricos e de fertilidade, com o que o símbolo da serpente tinha muito que ver e que não deixavam de atrair Israel. No texto, a serpente trata da ordem de Deus (não comerás) como se fosse uma mentira. (v.4ss). Esta narração está a responder a uma pergunta fundamental da humanidade: se Deus é bom e fez tudo bem porque é que existe tanto mal neste mundo? O paradoxo está no facto de que, quando o homem não aceita Deus como o seu Criador e desobedece, traz o mal ao mundo e descobre a sua nudez, com outras palavras, que não é nada, que não tem nada que não lhe tivesse sido dado.Meditação - Mateus 4, 1-11Jesus, proclamado pelo Pai, Filho no qual tem toda a sua alegria, logo a seguir ao baptismo é conduzido “pelo Espírito” ao deserto onde vai ser tentado pelo diabo.

Jesus, que veio para recapitular toda a humanidade, deu total adesão à vontade do Pai. Adão e Eva e o povo de Israel não o fizeram. Jesus, no episódio das tentações, é submetido às mesmas tentações do povo do Êxodo, como indicam as citações do Deuteronómio com as quais responde a Satanás (Dt 8, 3; 6, 16; 6, 13). Mas onde Israel falhou, Jesus vence.
A manha diabólica começa por apresentar a Jesus as esperanças messiânicas e pedindo-lhe que demonstre se é verdade que é Filho de Deus como tinha afirmado a voz vinda do céu (cf. Mt 3, 17). À proposta de um messianismo que satisfaça com facilidade as necessidades materiais do homem, Jesus responde: “nem só de pão vive o homem mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. À imagem de uma missão milagreira e espectacular que o diabo lhe propõe, Jesus opõe uma submissão incondicional aos desígnios de Deus (vv.5-7). À tentação do êxito segue finalmente a do domínio – converter-se em senhor da terra, ceder à idolatria do poder –, mas o caminho messiânico que Cristo intuiu no deserto é muito diferente. Com a autoridade que lhe vem da sua dedicação plena a Deus, Ele, o perfeito adorador do Pai, vence as tentações.

Mateus apresenta-nos Jesus não só como o verdadeiro Israel, mas também como o novo Moisés, ao citar o jejum de quarenta dias e quarenta noites, e ao mencionar o “monte altíssimo” onde o diabo lhe mostra todos os reinos da terra, aludindo a Dt 34, 1-4. Estes quarenta dias no deserto preparam Jesus para que assuma a condução do novo povo de Deus, a quem Ele oferece a nova Lei no sermão da montanha (cf. Mt 5 – 7).Perguntas para reflexão - Quem conduz Jesus ao deserto?- Recordas outras passagens da Bíblia em que se fale do deserto? (Podes ler Dt 8, 2-3; Os 2, 16).- Jesus supera as tentações. Imediatamente depois, o que é que Ele anuncia? A que é que convida? (cf. Mt 4, 17-19)- As tentações de Jesus no deserto parecem-se às que as nossas comunidades cristãs têm que enfrentar hoje? Quais são elas? Como podemos vencê-las aprendendo de Jesus?A Palavra converte-se em oraçãoRezemos juntos o Salmo 51 (50):Tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua bondade;pela tua grande misericórdia, apaga o meu pecado.Lava-me de toda a iniquidade;purifica-me dos meus delitos.Reconheço as minhas culpase tenho sempre diante de mim os meus pecados.

Contra ti pequei, só contra ti,fiz o mal diante dos teus olhos;por isso é justa a tua sentençae recto o teu julgamento.Eis que nasci na culpae a minha mãe concebeu-me em pecado.Tu aprecias a verdade no íntimo do sere ensinas-me a sabedoria no íntimo da alma.
Purifica-me com o hissope e ficarei puro,lava-me e ficarei mais branco do que a neve.Faz-me ouvir palavras de gozo e alegriae exultem estes ossos que trituraste.Desvia o teu rosto dos meus pecadose apaga todas as minhas culpas.

Cria em mim, ó Deus, um coração puro;renova e dá firmeza ao meu espírito.Não me afastes da tua presença,nem me prives do teu santo espírito!Dá-me de novo a alegria da tua salvaçãoe sustenta-me com um espírito generoso.Então ensinarei aos transgressores os teus caminhose os pecadores hão-de voltar para ti.

Ó Deus, meu salvador, livra-me do crime de sangue,e a minha língua anunciará a tua justiça.Abre, Senhor, os meus lábios,para que a minha boca possa anunciar o teu louvor. Não te comprazes nos sacrifíciosnem te agrada qualquer holocausto que eu te ofereça.O sacrifício agradável a Deus é o espírito contrito;ó Deus, não desprezes um coração contrito e arrependido. Pela tua bondade, trata bem a Sião;reconstrói os muros de Jerusalém.Então aceitarás com agrado os sacrifícios devidos,os holocaustos e as ofertas;então serão oferecidos novilhos no teu altar.

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